terça-feira, 5 de novembro de 2013

Policy Propensity Score (difficile)

Li ontem o paper NBER19414, do Jorda e Taylor sobre impacto de consolidação fiscal na atividade.

É um debate quente. Ajuste fiscal ajuda ou atrapalha na atividade? Até alguns anos atrás, a evidência que tínhamos era de que corte de G auxiliava na atividade. Essa evidência foi contestada recentemente por um artigo do FMI, usando a técnica de "narrativa" para identificar mudanças exógenas da política fiscal (a medida da narrativa é a variável instrumental para a variável fiscal). Com esse método descobrimos que contrações fiscais são contracionistas se o estado inicial da economia for fraco.

O problema, como mostram Jorda e Taylor, é que a medida de consolidação do estudo do FMI não é verdadeiramente exógena. Como sabemos disso? Simples: as consolidações identificadas no paper podem ser explicadas por variáveis macroeconomicas numa regressão simples. Em particular, contrações fiscais são mais prováveis em tempos de atividade fragilizada. Mas se isso é verdade, a própria medida narrativa é endógena e, portanto, não temos nela um bom instrumento. O que fazer?

O Jorda e o Taylor usam policy propensity score para amenizar o problema. Intuitivamente, a sacada é a seguinte: quanto mais "explicável" for o evento de consolidação, menos exógeno ele é, e portanto, deve ser levado menos em consideração na construção da variável instrumental. Em termos práticos, os eventos identificados pela narrativa são ponderados pelo inverso do seu propensity score.

Assim procedendo, os autores concluem que as contrações fiscais batem mais forte na atividade do que o próprio paper do FMI sugere. Por quê? Porque as consolidações ocorrem em tempos ruins, mas após tempos ruins a atividade tende a crescer mais rápido que em média. Ou seja, mesmo usando narrativa, o viés de estimação embutido é de que contrações fiscais são seguidas por expansões. Claro, quando você controla melhor esse problema de endogeneidade, o resultado, que já é de associação negativa entre crescimento e contrações fiscais, fica ainda mais forte.

5 comentários:

  1. Não entendi, não era para ter menos efeito ? Já que é a contração econômica que gera a necessidade de contração fiscal.

    No mais, parece um argumento para política fiscal neutra ao longo do ciclo, pois na prática ela é pro-ciclica.

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    1. Não, não, devo ter explicado mal. Veja: uma crise de endividamento, por ex, reduz crescimento e leva a contração fiscal hoje. Aí, nos anos seguintes à contração fiscal/crise de endividamento, a atividade recupera-se mais rápido simplesmente porque ela caiu muito hoje. No dado voce vai ver contração fiscal hoje, crescimento mais forte nos PRÓXIMOS anos, mas não foi pela política fiscal, foi por reversão à média.

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    2. Entendi agora, eu acho

      Ele calcula uma trajetória do produto durante o ciclo para uma política fiscal neutra, coloca a política fiscal contracionista

      então ele calcula a perda de produto imediata e o ganho do produto decorrente da maior poupança

      pesa isso na balança e conclui ?

      (claro, n tem como retirar os efeitos em laboratório, to pensando em ele isolar isso econometricamente mesmo, via algum teste voodu ou algo assim )

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  2. Dudu,

    se não me engano, a teoria da contração fiscal expansionista vem perdendo força há algum tempo. Inclusive, o Perotti fez já uma "mea culpa" recentemente, em relação aos seus artigos com o Alesina na década de 90. Hoje em dia, as evidências parecem caminhar para a existência de multiplicadores fiscais positivos dependendo de variáveis como hiato (+), existência de lower-bound (+), entre outras. Um paper recente no JME (Isetzki et al) acha resultados menos intuitivos, como multiplicador igual a zero para câmbio flutuante, mas acho que o grosso da literatura aponta para a existência de multiplicadores fiscais mais positivos do que o que se achava em uma ampla gama de casos (definitivamente não no do Brasil hoje). Um outro paper do Chistiano e outros (2011) mostra que o multiplicador pode chegar a 3 no zero lower bound. Só o Barro que é mais cético em relação a esses trabalhos.

    Nos últimos anos a importância da política fiscal voltou com força, mas como o Blanchard coloca no texto base do Rethinking Macro, ainda temos que explorar muito essa questão antes de ter um entendimento definitivo. Por isso acho muito boa a sugestão desse paper do Jorda e Taylor. Queria aproveitar pra saber em que condições vc acha que a teoria da contração fiscal expansionista ainda pode valer, se é que existem.

    Abs,
    Guilherme Tinoco

    PS: o texto do fmi que vc faz referência é o baum, ribeiro e weber (2012)?

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